O Caracol preguiçoso e a nuvem trabalhadora

Era uma vez um caracol que andava a passear todo contente com as suas antenas ao sol. Enquanto passeava ele ia cantarolando:

Que lindo dia de sol!

Para andar a passear

Que lindo dia de sol!

Eu sou um belo caracol

Que anda aqui a cantar…

Lá lá lá lá lá lá……

Andava então na sua vidinha muito satisfeito o caracol, espevitando muito contente as suas antenas ao sol, a passear de folha verdinha em folha verdinha. Todo contente e satisfeito, mordiscava uma folhinha aqui, mordiscava uma folhinha ali e ia dizendo a toda a gente que encontrava que aquele era um belo dia. Um dia perfeito. Sim, um dia perfeito para um caracol preguiçoso que nada gostava mais de fazer senão passear e comer alegremente de antenas ao sol.

Enquanto o caracol andava assim alegre na sua vida, espreitava uma nuvem marota e atrevida:

-“ Que bela vida tem este caracol. Deve ser bom, nada mais ter para fazer, do que passear ao sol. Mas eu tenho trabalho a fazer e por isso o sol vai desaparecer e agora vai chover”- pensou a nuvem divertida com a grande partida que ia pregar ao caracol que andava a passear -“coitado, quando der por ela, nem a casota lhe vai valer. Vai ficar todo encharcado!”- e riu-se num riso de nuvem muito molhado, pois ao mesmo tempo começou a enviar uma grande quantidade de gotas de água grossas e fortes que ao chegarem à terra deixaram tudo encharcado.

O nosso caracol, é que inicialmente nem se apercebeu do que aconteceu. Tinha comido e passeado tanto que acabara por ficar cansado, e recolhendo-se para dentro da sua confortável casinha que sempre viajava nas suas costas adormeceu, bem instalado num folha comprida e verdinha. Mas com a força da chuva, a folha abanou e o pobre caracol rebolou e acordou! Tinha caído numa pequena poça de água que se tinha formado e ao sair cá para fora, com a curiosidade de saber o que estava acontecer, tinha ficado encharcado. Olhou para o céu admirado,”para onde teria ido o sol?” pensava o pobre caracol todo molhado e desapontado.


Lá bem no alto no céu, estava entretida a brincar a nossa nuvem atrevida. Já se cansara de trabalhar. Agora era a sua vez de andar entretida. Ia começar a brincar ao faz-de conta das nuvens, acabava de fazer de conta que era uma nuvem flor quando ouviu o caracol a resmungar:
-Estava um dia tão bonito e tinha que vir uma nuvem pateta fazer chuva para o estragar!

A nuvem ofendida e muito inchada decidiu que estava na hora de responder àquele caracol preguiçoso que não fazia nada. Assim começou a chamar o caracol:

-Pssst pssst senhor caracol!

O caracol olhava, olhava e nada via em seu redor.

-Pssst pssst senhor caracol! Procure melhor!

O caracol continuava a olhar a para todo o lado sem ver quem o estava a chamar.

-Pssst! Pssst! Senhor caracol! Procure melhor! Sou eu a nuvem que estou aqui em cima ao pé de si!

-Ah! Só podia ser! - Respondeu o caracol com cara de caso e de poucos amigos, pois não tinha gostado nada de ter ficado encharcado. - Onde é que já se viu molhar as pessoas que andam a passear, assim sem mais nem menos, sem sequer avisar? –resmungou amuado.


- Sabe senhor caracol enquanto andava o senhor a passear de antenas espevitadas ao sol, eu estava a trabalhar para que o senhor se pudesse alimentar e abrigar!

-A trabalhar?! Chama trabalhar a encharcar as pessoas? -retrucou indignado o caracol.

Mas a nuvem muito calma e a sorrir continuou:

- Sim a trabalhar! Se o senhor teve folhas verdes e apetitosas para se deliciar e abrigar a descansar, do seu passeio, mas se não fosse eu receio que passasse fome. Pois se eu não enviasse uma boa carga de água para que as plantas se pudessem alimentar e renovar, ficando verdes viçosas, estas não só deixariam de ser tão apetitosas como morreriam de fome e de sede. Não morrerias tu de sede se deixasse de chover? O que irias beber? Talvez não fosse agradável ficar encharcado, mas olhe como está tudo mais bonito e verdinho! Ou vai dizer-me que não tinha notado?

O caracol envergonhado com o seu egoísmo reconheceu que nunca tinha pensado que de facto a nuvem tinha razão. E também não era assim tão grave nem desagradável ter-se molhado, pois até se tinha refrescado e num instante tinha secado.

Assim a nuvem e o caracol fizeram as pazes e tornaram-se grandes amigos, pois às vezes podia não parecer, mas se o caracol e outros seres viviam não era só ao sol que o deviam, mas também à nuvem que fazia chover para que as plantas e os outros seres vivos tivessem água para beber.


Conto escrito e ilustrado por Flora Rodrigues.

Dedicado à sua filha Bárbara e inspirado num Conto de António Torrado.

12 de Outubro de 2008

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